

Você sabe a diferença entre TOC, Mania e Superstição ?
Você confere inúmeras vezes se fechou portas, janelas, gás e se desligou aparelhos elétricos ?
Preocupa-se demasiadamente com organização, limpeza e tem a sensação de que tudo está contaminado? Executa ações de forma repetitiva e sem sentido como, por exemplo, passar pela mesma porta várias vezes, sair somente pela mesma porta que entrou, repetir certos números palavras ou frases, refazer algum trajeto porque encontrou alguém ou algum objeto que lhe causa azar ? Considera-se muito supersticioso com números, cores, datas ou lugares a ponto dessa crença interferir na sua pontualidade nos compromissos ou atrapalhar suas relações interpessoais ? Tem sempre muitas dúvidas, repete várias vezes a mesma tarefa ou se pergunta para ter certeza de que fez bem feito ou de que não irá errar ? Gosta de guardar coisas inúteis (jornais velhos, caixas vazias, sapatos ou roupas velhas) e tem muita dificuldade em desfazer-se delas ? Necessita contar, repetir frases, palavras, enquanto esta fazendo coisas, pois tem pensamentos de que se não o fizer, algo de ruim irá acontecer? Não consegue ver um chinelo virado que corre para desvirá-lo? Ao levantar-se da cama coloca sempre primeiro o pé direito no chão ? Você possui alguma mania sem fundamento, que lhe causa incômodo e consome seu tempo?
Após essas reflexões instigantes faz-se necessário esclarecer a diferença entre TOC, Manias e Superstições.
A Palavra “mania” possui origem grega e significa loucura. Na Psiquiatria é um estado de alteração do humor em que a pessoa fica agitada, irritadiça. Contudo, popularmente a expressão "mania" possui outro significado. Geralmente é empregada para definir comportamentos estranhos, repetitivos e/ou exagerados. A mania está associada a hábitos que não interferem negativamente na vida individual ou social da pessoa. Como por exemplo quando uma pessoa ao se levantar da cama todos os dias coloca primeiro o pé direito no chão, ou também gostar de guardar as roupas separadas por cores, etc. Se esses atos não causarem nenhum pensamento obsessivo, negativo e prejuízo ao indivíduo, eles são considerados Manias. Já as superstições são manias ligadas à crendice popular. Atos sem fundamento que crescemos ouvindo e vendo, os quais repetimos ao longo da nossa vida, como por exemplo pessoas que não passam embaixo de escadas para evitar o azar.
Não há mal nenhum em ter manias e superstições ! A verdade é que todo mundo tem manias e isso pode ser um fator positivo, pois em determinados aspectos nos faz ser organizado, precavido com questões de segurança, estar alerta na prevenção de problemas, etc. Entretanto, se isso passa da normalidade, ou seja, se desenvolvemos comportamentos e pensamentos repetitivos que se tornam fora de controle, a ponto de nos gerar sofrimento ou causar danos, está na hora de procurar ajuda.
O Transtorno Obsessivo Compulsivo-TOC- é um transtorno de ansiedade que afeta cerca de 4% da população mundial. O portador possuiu pensamentos negativos e acredita na probabilidade deles acontecerem. Em função disso, desenvolve comportamentos repetitivos com o objetivo de evitar que eles se tornem realidade. Por exemplo: alinhar os chinelos antes de dormir pois se não o fizer algo de ruim acontecerá no dia seguinte, ou uma pessoa que tem medo de se contaminar usando objetos que outras pessoas usaram (talheres de restaurantes, corrimãos, maçanetas de portas, bancos de ônibus, etc.) pode começar a lavar as mãos ou a boca seguidamente e evitar apertar as mãos, tocá-las ou até mesmo deixar de sair de casa.
Os pacientes que possuem esse transtorno geralmente são muito responsáveis e rígidos consigo mesmos. Querem ter tudo sob controle e possuem uma tendência a se culparem demais, por isso não suportam os próprios pensamentos desagradáveis. Eles acreditam que suas ações repetitivas (seus rituais) ou compulsões irão neutralizar os pensamentos obsessivos, de tal forma, que sentem alívio temporário da ansiedade quando os executam. Cabe ressaltar que os portadores se empenham para não ter esses tipos de pensamentos” aprisionadores”, mas a tentativa de controlá-los causa ainda mais ansiedade e culpa, pois têm consciência de que seu conteúdo é inaceitável.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, o TOC é caracterizado como uma doença mental grave e está entre as dez maiores causas de incapacitação. Em aproximadamente 10% dos casos é possível o agravamento do indivíduo, incapacitando-o para o trabalho. Além de acarretar sérias limitações à convivência e à produtividade.
Em 2004 o Rei Roberto Carlos teve um ato de coragem e solidariedade ao povo brasileiro ao assumir em uma entrevista que sofria de TOC. Essa entrevista ajudou a milhares de pessoas a entender a doença e a procurar ajuda.
“A princípio, pensei que pudesse me curar sozinho. Tentei fazê-lo com a ajuda de um livro que fala do assunto. Mas logo vi que o transtorno obsessivo compulsivo é algo muito mais sério do que em geral se imagina. Minhas manias e superstições me levaram ao diagnóstico. Todo mundo tem algumas maniazinhas, como sentar no mesmo banco quando vai à igreja, por exemplo, e não fica chateado quando o banco está ocupado. Mas minhas manias estavam me incomodando. Já consegui me livrar de algumas delas. Também confundia alguns sintomas do TOC com superstições. Hoje, vejo que não sou tão supersticioso assim. Minhas superstições até que são bastante comuns, muita gente também as tem.” Declarou Roberto Carlos
Sobre o tratamento o Rei revelou: “Já sentia vontade de fazer tratamento. Resolvi que era hora de procurar a cura. Há quatro meses estou fazendo terapia cognitiva comportamental. Submeto-me a sessões de uma hora, duas vezes por semana. A autocura é possível, mas é muito difícil. Bom mesmo é ter um terapeuta cuidando de cada aspecto do transtorno. “
Os sintomas do TOC interferem de forma acentuada na vida do indivíduo e da família. A doença altera rotinas, exige que os parentes se adaptem aos sintomas. É comum a restrição ao uso de camas, roupas, toalhas, talheres. Os portadores do TOC normalmente obrigam os demais membros da família a fazerem o mesmo, mas muitas vezes os cuidados excessivos e as exigências nem sempre são compreendidos ou tolerados.
Ainda não se sabe ao certo as causas do TOC, há um desequilíbrio neuroquímico em algumas áreas do cérebro, principalmente envolvendo o neurotransmissor chamado serotonina. Uma coisa é certa: o componente genético é muito forte, já que é comum vermos outras pessoas com o transtorno na mesma família. Alguns traços de personalidade podem colocar o indivíduo sob risco de desenvolver o TOC, tais como : alto nível de ansiedade, perfeccionismo, desejo de ter tudo sob controle, um senso exagerado de responsabilidade e de dever.
Sabe-se ainda que fatores de natureza psicológica influenciam no surgimento ou no agravamento dos sintomas de TOC. É bastante comum que os sintomas surjam depois de algum estresse psicológico ou que o fator cultural exerça influência, como por exemplo uma educação recebida de que tudo está contaminado e que as mãos devem ser lavadas após qualquer contato ou manipulação com qualquer tipo de objeto .
TOC tem cura?
O TOC não melhora espontaneamente. Diante do tratamento, o problema pode ser regredido e o indivíduo é capaz de manter uma qualidade de vida bem razoável.
O tratamento consiste em tentar reequilibrar a neuroquímica cerebral (com medicações) e a mudar através de Psicoterapias, alguns padrões de comportamentos rígidos dos pacientes causadores de ansiedade e estresse. Por exemplo: o desejo de perfeição inatingível e necessidade de controle.
A Terapia Cognitiva Comportamental é considerada um dos tratamentos de primeira linha. Nessa abordagem, o paciente é exposto ao fator ou à ideia temidos por ele ( mentalmente ou pessoalmente) sendo então desencorajado ou impedido de utilizar a resposta compulsiva usual.
As pessoas com TOC geralmente tentam esconder seu problema ao invés de procurar ajuda. Frequentemente conseguem esconder muito bem seus sintomas obsessivo-compulsivos dos amigos e colegas de trabalho. Uma infeliz consequência disso é que as pessoas com TOC só recebem ajuda profissional muitos anos após o início de sua doença. Nessa ocasião, os hábitos obsessivo-compulsivos podem estar profundamente arraigados e muito difíceis de mudar.