Compulsão por Agradar

Você sofre desse mal?

Você sente dificuldade em dizer “não” a pedidos ou necessidades de outras pessoas? Acredita que nada de bom possa vir de um conflito? Sente-se ansioso ou desconfortável em dizer ou fazer alguma coisa que possa vir a deixar outra pessoa com raiva? Vive agradando os outros, até mesmo sem perceber, não levando em conta muitas vezes os próprios sentimentos e necessidades? Acredita que pessoas legais recebem em troca carinho, aprovação e amizade dos outros? Esforça-se para evitar conflitos e confrontos com familiares, colegas de trabalho, filhos, etc? Acha muito importante ser amado e aceito por todas as pessoas que mantém uma relação de proximidade? Pontua raramente ao outro o que deseja e quando o faz fica se perguntando se não foi egoísta ou má em ter se posicionado ? Sente uma dificuldade enorme em dizer não principalmente para as pessoas que possui uma relação estreita: marido, esposa, filhos e amigos ?

Se respondeu sim a pelo menos 5 das perguntas acima é importante fazer uma auto- análise e verificar se você não sofre de Compulsão por Agradar ou “ Síndrome da Pessoa Boazinha ”, como é conhecida popularmente.

Há um número epidêmico de pessoas afligidas pela imposição “autoimposta” de agradar aos outros, muitas vezes à custa da própria felicidade. A Compulsão por Agradar é uma necessidade poderosa e quase inconsciente que muitas pessoas têm por suprir o tempo todo as necessidades e vontades do outro. Algumas frases se repetem na mente dos agradadores ao longo do dia e em diversas situações como um mantra, tais como: “Preciso ser gentil o tempo todo, pois é isso que esperam de mim!”,“Como posso ser útil?”, “Se eu for cordial até com aqueles que me fazem mal mostrarei que sou superior!” “ Se eu falar o que penso pode ocasionar uma briga, então é melhor deixar como está”, “O que será que essa pessoa está precisando?” “ O que posso fazer agora para agradar ?”. A simples noção de que alguém possa precisar de ajuda já é suficiente para deixar o agradador preocupado com o que pode fazer para ser útil.

Você deve estar se perguntando: Como algo que soa tão inofensivo, muitas vezes até mesmo bem intencionado, pode se tornar problemático ou perigoso?

A compulsão por agradar pode estar cobrando um preço alto na sua vida emocional e física, além de afetar a qualidade das suas relações interpessoais. Muitas pessoas chegam ao meu consultório sem a consciência de possuírem esse padrão de comportamento. A queixa principal pode muitas vezes mascarar a síndrome, como por exemplo, ansiedade, depressão, relacionamentos infelizes, desmotivação com o trabalho, etc.

O problema é que ao estar tão atento em fazer pelo outro, em imaginar o que poderia fazer para ajudar, que o agradador costuma a não dar ouvidos as suas próprias necessidades. A verdade é que pessoas que agradam compulsivamente têm suas vidas comprometidas por colocarem sempre as necessidades dos outros em primeiro lugar. Por não conseguirem dizer não, por se esforçarem arduamente para obter a aprovação de todos e por tentarem fazer os outros felizes. O que torna esse problema patológico é quando o agradador vai longe demais na tentativa em ser útil custe o que custar.

Sabemos que cada ser humano é único, porém, à luz da Psicologia existem algumas vertentes que justificam ou impulsionam tais comportamentos, são elas:

1) As atitudes podem estar ligadas a um comportamento automático comandado por crenças limitadoras e errôneas. Como por exemplo, pessoas que receberam uma educação castradora ou que cresceram ouvindo dos pais que deveriam ser crianças gentis ou educadas para merecerem amor ou admiração dos outros, que ajudar os outros é feio, dizer não é sinônimo de egoísmo, etc

2) Podem ser motivados por um pensamento distorcido. Exemplo: “Devo cuidar de todos ao meu redor, pois essa é minha função” Meninas geralmente são educadas para exercerem o papel de “cuidadoras”, uma prova disso são os brinquedos que ganham e cujo o propósito é cuidar. Desta forma, bonecas, panelinhas, casinhas, carrinhos de bebê, etc. podem formar crenças falhas na criança.

3) Pela tentativa de fugir de sentimentos negativos, sejam delas próprias ou dos outros. Muitas vezes quando alguém sofre da compulsão por agradar, sua autoestima está relacionada ao quanto faz pelos outros, ou seja, quanto mais eu faço ou quanto mais eu sou útil melhor fica minha autoestima. Satisfazer as necessidades dos outros torna-se assim uma fórmula mágica para conquistar amor, respeito e proteção. Desta forma quanto mais eu fizer pelo outro maior será meu valor, mais admiração ou amor eu terei em troca.

Quais são os riscos dessa Síndrome? Por você ser tão bom, algumas pessoas podem querer manipular ou explorá-lo mesmo sem que haja uma percepção clara de ambas as partes. No âmago da sua “agradabilidade” pode ter um profundo medo de emoções negativas.

Agradar os outros é uma atitude amplamente motivada por temores emocionais: medo de rejeição, medo de abandono, de conflitos e confrontos, de críticas, de ficar sozinho, medo da raiva, de não corresponder às expectativas, etc.

Ao investir tanto em ser amável, ou seja, na sua cortesia, você não se permite sentir ou expressar emoções negativas em relação ao outro. Sentimentos negativos reprimidos podem emergir e refletir no corpo em forma de enxaqueca, dores nas costas, estômago, pressão arterial alta ou uma série de outros sintomas relacionados ao estresse. Quantas pessoas não expressam decepção, raiva, tristeza que sentem em relação ao companheiro, chefe, familiares e internamente estão deprimidos, em pânico ou nervosos?

O melhor a fazer é reconhecer que emoções negativas entre pessoas são inevitáveis e que é preciso aprender a lidar de forma eficaz com elas. Em relacionamentos é muito importante pontuarmos para o outro o que está nos deixando infelizes, com raiva, decepcionados, como também é saudável exercitar a escuta. Essa é uma forma preciosa de consertar o que está errado e fazer os ajustes necessários. Evitar conflitos não é uma característica de relacionamentos prósperos. Pelo contrário, é um sintoma grave de convivências disfuncionais .

A Compulsão por agradar cria um bloqueio psicológico tanto quanto para transmitir quanto em receber emoções negativas. Além do mais, esforçar-se para atender as necessidades dos outros às custas de suas próprias serve somente para lhe deixar propenso a um estresse debilitante e à exaustão. Tais problemas físicos e emocionais cobram seus preços na sua saúde. Agradadores compulsivos podem se ver tentados a consumirem alcóol, comidas ou drogas para compensar a forma como se sentem e continuarem sendo capazes de forçar os limites para fazer ainda mais pelos outros.

Como sair desse ciclo vicioso que pode estar há anos acontecendo?

É possível desenvolver consciência sobre o problema e aprender técnicas ou ferramentas de recuperação.O primeiro passo é ter uma Tomada de Consciência sobre esse padrão de comportamento. Fazer uma auto-análise e tentar descobrir quando ele acontece, porque acontece, com quem, etc. Em seguida tentar buscar um equilíbrio entre as suas demandas e as dos outros, aprender a identificar os momentos em que os outros abusam da sua boa vontade, aprender a expressar seus desejos e opinião, aprender a dizer não sem ficar se punindo por tê-lo feito, e ter a consciência de que a sua aprovação é muito mais importante do que a de qualquer outra pessoa.

Deixo aqui uma pergunta provocadora para as pessoas que sofrem dessa síndrome:

Porque você não pode ser Agradável, Útil e Gentil consigo mesmo na mesma proporção e empenho?

Em resumo, aprender a dizer não, não fugir de conflitos e obter aprovação de si mesmo são mudanças fundamentais para uma vida plena de realização e melhoria na autoestima.

E para fechar o assunto como uma boa reflexão, compartilho uma frase do nosso querido Drummond :

“Porque eu sou do tamanho daquilo que sinto, que vejo e que faço, não do tamanho que os outros me enxergam”

Flávia Freitas